O Arquivo Público de Paracatu e a perpetuação da memória do Noroeste Mineiro

Os trabalhos de restauro de documentos iniciaram-se no ano de 2010 graças a um projeto elaborado na própria instituição arquivística por seus servidores e patrocinado, na época, pelo Instituto de Arqueologia Brasileira (IAB)

0
459
O Arquivo Público de Paracatu e a perpetuação da memória do Noroeste Mineiro

De um lado, materiais tecnicamente especializados para o restauro de documentos preciosíssimos da história destes rincões das Minas Gerais, do outro, o saber e a meticulosidade que ao restaurador são atributos indispensáveis para garantir a longevidade do acervo que se encontra sob a responsabilidade do Arquivo Público de Paracatu em seus mais de 23 anos de atuação em prol da memória local.

Os trabalhos de restauro de documentos iniciaram-se no ano de 2010 graças a um projeto elaborado na própria instituição arquivística por seus servidores e patrocinado, na época, pelo Instituto de Arqueologia Brasileira (IAB), de forma a viabilizar decisivamente a aquisição de recursos materiais e tecnológicos necessários à ousada empreitada, especialmente por enquadrar-se no contexto de uma cidade do interior do país e com menos de 100 mil habitantes, algo raro, portanto.

O conceito de restauração, segundo CASSARES E MOI (2000) é “um conjunto de medidas que objetivam a estabilização ou reversão de danos físicos ou químicos adquiridos pelo documento ao longo do tempo e do uso, intervindo de modo a não comprometer sua integridade e seu caráter histórico”. As práticas de restauro de documentos empregadas junto ao acervo histórico de Paracatu não fogem ao referido modelo conceitual e comprovadamente, trazem excelentes resultados que beneficiam, entre outros, o exercício da cidadania.

A relevância social desse trabalho arquivístico, que se materializa à medida em que cada folha “testemunhal” é restaurada, é sentida pelo cidadão especialmente no momento em que ele recorre às fontes e tem-nas preservadas, autênticas e acessíveis ao longo do tempo, algo reforçado pela Lei 12.527/2011, também conhecida como Lei de Acesso à Informação.

Outra conseqüência do restauro documental é a melhor apresentação física do suporte (meio em que está registrada a informação)  para a sua futura digitalização, procedimento este que visa à criação de seu representante virtual (versão digitalizada!).

Esse esforço em conservar os registros documentais de Paracatu, embora não receba o merecido reconhecimento por quem é de dever fazê-lo, pesa positivamente para as rendas do município, já que tais ações de restauro documental contribuem para a pontuação no ICMS Cultural do Estado de Minas Gerais, que destina para a municipalidade recursos financeiros a serem empregados na área cultural.

Em algumas capitais, como São Paulo, Belo Horizonte e Salvador, há centros de documentação e informação dotados de modernos laboratórios dedicados ao estudo e à prática de conservação e restauro. O efetivo de pessoal normalmente é razoável e o aparato tecnológico inclui máquinas que agilizam sobremaneira as atividades de restauro, a exemplo da MOP (máquina obturadora de papel), na qual alguns manuscritos são imersos em uma solução de celulose e retomam um excelente  aspecto físico.

No Arquivo Público Municipal de Paracatu, todo o trabalho voltado à restauração documental realiza-se quase que totalmente de forma artesanal, haja vista que a instituição não dispõe dos equipamentos automatizados para tal, e em seu quadro de pessoal, apenas 2 funcionários tecnicamente especializados atuam no desempenho do serviço, que é metódico e exige certo grau de paciência para o alcance dos resultados almejados.

Destarte, é de suma importância a valorização das práticas de conservação e restauro documental como decisivas para a longevidade dos registros sobre o Noroeste Mineiro, assim como é latente a necessidade de maiores investimentos, sejam financeiros ou em recursos humanos, que fortaleçam as rotinas de preservação em consonância com medidas e inovações que garantam a digitalização e disseminação desse rico acervo pela Internet.
 
REFERÊNCIA:
CASSARES, N. C.; MOI, C. Como fazer conservação preventiva em arquivos e bibliotecas. São Paulo: Arquivo do Estado: Imprensa Oficial, 2000.
 

(*) Carlos Lima é graduado em Arquivologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBa), é Pós-Graduado em Oracle, Java e Gerência de Projetos, é consultor em organização de arquivos e memória empresarial e exerce a função de Arquivista no Arquivo Público Municipal de Paracatu.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui