por José Augusto Nieto
Unaí, 28/01/2018 – Desde a saída de Juscelino Kubitschek de Brasilia, em 31 de janeiro de 1961, a elite mineira e seus governantes nada fizeram de significativo pela região Noroeste do estado.
A ligação BH-Brasília (BR 040) foi a ultima grande obra pública que a região viu acontecer. Até poucos anos atrás, quase todas as cidades da região estavam sem ligação asfáltica. Enquanto na capital o asfalto rolava solto, nas Gerais o sertanejo enfrentava lama e poeira.
Durante décadas o sertão das Gerais forneceu mão de obra barata, gerando carvão a baixo custo para mover a máquina siderúrgica das Minas. Sem as mínimas condições de saneamento, saúde ou qualidade de vida, o sertanejo foi forçado a derrubar milhões de hectares de cerrado para abastecer as fornalhas sempre em brasa.
Sem água tratada, sem energia elétrica, sem equipamentos de segurança, sem medicamentos, sem hospitais, sem médicos, sem enfermeiros, sem maternidades, o sertão se ergueu da poeira e da lama, construiu cidadania, oportunidades de emprego, cidades, com seu trabalho e com as migalhas que caiam das mesas da capital.
Até hoje a mesorregião do Noroeste de Minas não possuí um hospital regional. Também não possuí hemocentro. Não há atendimento para grandes complexidades médicas. São 19 municípios, com uma população de aproximadamente 300 mil pessoas sem a segurança básica em saúde.
A omissão das elites mineiras para com o Noroeste chega a ser inexplicável. Estrategicamente colocada ao lado do Distrito Federal, não teve a atenção dos dirigentes estaduais para seu desenvolvimento. Décadas de abandono em infraestrutura condenaram a região ao esquecimento dos grandes investidores da Capital Federal. Goiás soube se aproveitar do lapso mineiro, e captou bilhões em investimentos, desde grandes regiões industriais até pujantes polos turísticos. E Minas ficou para trás, foi o grande vacilo. Até pouco mais de uma década, a maioria das cidades mineiras da região noroeste, nem asfalto possuíam, lacuna sanada pelo então governador Aécio Neves. Ressalta-se ainda, a ausência de asfalto num pequeno trecho no estado de Goiás, entre Cabeceira Grande (MG) e Cabeceia de Goiás (GO), fato extremamente danoso aos municípios mineiros próximos, o que mostra, o pouco empenho das autoridades com a região.
Em 2019 tudo indica que a história de abandono continue. As Gerais vão continuar a ser guiadas por mineiros que nunca viram uma vereda. Neste início de ano de 2018 duas leis sancionadas pelo Governo do Estado de Minas Gerais colocam o Noroeste e parte das nascentes dessa margem esquerda do rio São Francisco em risco: uma lei que autoriza a remoção da sede do órgão de fiscalização ambiental da região e outra lei que autoriza o corte do buriti, árvore sagrada do sertão, imponente majestade das veredas e nascentes.
A elite de Minas Gerais, em sua maioria, tem estado de costas para o Grande Sertão de Guimarães Rosa. O belo horizonte que hoje vislumbram são os coquetéis globais e as caminhadas pela Avenida Atlântica. A luta que os habitantes da última fronteira mineira tem travado para desenvolver os sertões urucuianos tem tido um silêncio marcante na capital do Estado. Talvez estejamos errados, talvez estejamos tão isolados, que a exuberante produção intelectual e política sobre essa região não chegue até aqui. Talvez as obras, a saúde, a civilização povoem em abundância textos, pedidos e emendas. Sim, desculpem-nos, talvez em Belo Horizonte exista uma grande preocupação e dedicação com o Grande Sertão, mas a distância não permite que nós, Guimarães e as multidões percebam.
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Filme documentando a construção da rodovia Rio-Brasília (atual BR-040) em 1959