Pesquisa inédita sobre equoterapia preventiva em idosos é desenvolvida em Minas

Com resultados positivos, o estudo da UFTM, financiado pela Fapemig, utiliza tratamento com cavalos para combater alterações naturais provocadas pelo envelhecimento em idosos saudáveis

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Pesquisa inédita sobre equoterapia preventiva em idosos é desenvolvida em Minas

A equoterapia vem comprovando cientificamente, ao longo dos anos, a sua importância no tratamento complementar de reabilitação física e mental. Entretanto, em Uberaba, a 480 km de Belo Horizonte, a Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) é pioneira ao desenvolver uma pesquisa com equoterapia em idosos saudáveis, apenas com alterações fisiológicas naturais do próprio envelhecimento.

A expectativa é disseminar os resultados mundo afora para que a equoterapia seja praticada como forma de prevenção e qualidade de vida. O estudo, inédito em todo o mundo, tem o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig).

O estudo “Efeitos da Equoterapia sobre os Parâmetros Cardiovasculares, as Atividades Eletromiográficas e o Equilíbrio em Praticantes Idosos” foi iniciado há quatro anos e é liderado pela professora e pesquisadora Ana Paula Espíndula. Nesse trabalho ela conta com a parceria do também pesquisador Vicente de Paula Antunes, um dos pioneiros no estudo da equoterapia em Minas Gerais.

A pesquisa foi desenvolvida no Centro de Equoterapia da Apae de Uberaba, por meio de convênio com UFTM. Ali são realizados estudos da patologia geral com enfoque no tratamento equoterapêutico da pós-graduação em Ciências da Saúde da universidade.

A conclusão do trabalho se deu com 35 idosos de 60 a 79 anos, que participaram de todas as etapas definidas no projeto e assinaram o Termo de Consentimento. Segundo a pesquisadora, o estudo com idosos não é apenas inovador, mas também inédito. Os voluntários foram recrutados pela Unidade de Atendimento ao Idoso (UAI) – estrutura municipal de assistência à terceira idade.

Para avaliar o potencial de recursos equoterapêuticos em idosos saudáveis, a equipe acompanhou os voluntários em 30 atendimentos, cumprindo as atividades de avaliação da frequência cardíaca, oxigenação sanguínea e pressão arterial em todos esses atendimentos, em cinco momentos: em repouso, no 1º, 15º e 30º minuto e em repouso final.

“Houve avaliação das atividades eletromiográficas no 1º, 20º e 30º atendimento, com eletrodos de superfície, posicionados no tronco”, revela Ana Paula. A justificativa se deu para elucidar a terapia com a utilização de cavalos como um recurso para melhoria da condição cardiopulmonar, equilíbrio e tônus das pessoas idosas.

A pesquisadora explica que o movimento tridimensional do cavalo com a andadura ao passo é semelhante à marcha humana. “À medida que a idade avança, a maioria das pessoas passa a ter dificuldades na marcha, apresenta rigidez nas articulações e encurtamento musculares”, observa.

Os fatores aumentam o número de quedas que podem tornar os idosos incapacitantes, elevando também significativamente os custos do Sistema Único de Saúde (SUS). Em alguns casos, a queda pode levar à morte, com fraturas capazes de provocar uma embolia pulmonar ou outras enfermidades graves.

A professora aposentada Vilma Honória Mota Geraldino de 69 anos, foi uma das voluntárias do estudo e demonstrou satisfação com tudo o que viveu. Ela conta que quando se apresentou estava numa fase de sedentarismo e depressão após a morte do marido, com quem viveu décadas.

“Com a equoterapia eu me senti muito bem, melhorei da depressão e das dores que sentia na coluna, pelo fato de estar sedentária. Eu não montava, mas entrei numa sintonia tão boa com o cavalo que não dá para explicar”, revela. Ela assegura que sentiu todos os benefícios e que gostaria muito de continuar fazendo a equoterapia.

Prevenção e resultados

Para prevenir as situações comuns no dia a dia, a intenção é trabalhar a atenção básica na saúde dos idosos para melhorar a qualidade de vida deles e impedir que fiquem incapacitantes.

A pesquisa apresenta resultados bastante significativos: a frequência cardíaca se manteve estável, demonstrando que a equoterapia pode ser trabalhada com idosos sem sobrecarga cardiovascular. No 20° atendimento constatou-se um aumento crescente da musculatura e após o 30º atendimento houve melhoria considerável do equilíbrio e aumento da atividade muscular.

Ana Paula Espíndula afirma que o estudo traz boas perspectivas para a equoterapia também com idosos. “Queremos devolver à sociedade esse trabalho detalhado, por meio de nosso estudo e conclusões, com publicações internacionais”, revela a pesquisadora.

O estudo possibilitou ainda a produção de duas dissertações de mestrado das alunas Edneia Corrêa de Mello e Luanna Honorato Diniz, defendidas na UFTM.

Novos mestres

Para Edneia Corrêa – que foi orientada pelo professor Vicente de Paula Antunes e coorientada por Ana Paula – a realização da pesquisa, frente aos resultados obtidos, foi muito gratificante, pois a equoterapia ganha mais relevância diante da diversidade de indicações clínicas que esse método vem recebendo e a aparente escassez na literatura de seus aspectos biomecânicos.

“Os longevos recebem um tratamento terapêutico diferenciado, longe da rotina de ambientes hospitalares e ambulatoriais”, ressalta a mestre em Ciências da Saúde com ênfase em equoterapia.

Com mais desafios a serem superados, a nova mestre em Ciências da Saúde com ênfase em patologia geral e pesquisas em equoterapia, Luanna Honorato Diniz, portadora de deficiência visual, demonstra que é possível alcançar os lugares sonhados e que a inclusão é uma realidade em pequena parte das instituições de ensino e pesquisa brasileiras.

Luanna conta ter vivido uma experiência profissional e pessoal muito rica, pois além de fazer a pesquisa e os atendimentos no mestrado, participou como praticante da equoterapia no projeto-piloto de uma pesquisadora do doutorado.

 “No começo, tivemos que fazer várias adaptações, tanto para atender como para fazer a minha pesquisa. Perdi o medo, pois ele não pode ser impeditivo para as nossas conquistas. Tive muito apoio e consegui colocar em prática tudo o que eu havia aprendido na teoria”, afirma Luanna.

Segundo Ana Paula Espíndula, a validação da hipótese da pesquisa confirma que a equoterapia pode prolongar as alterações naturais do tempo, sem colocar em risco a condição cardiorrespiratória, pois se trata de uma atividade física moderada. Para ela, o resultado é gratificante.

A pesquisadora aproveita e chama atenção para a necessidade de a UFTM criar um centro próprio de equoterapia dentro da sua estrutura para que as pesquisas possam ser ampliadas.

“A parceria com o Centro de Equoterapia da Apae é imprescindível, mas a entidade é obrigada a limitar os horários, pois realiza 240 atendimentos por semana e ainda mantém uma fila de interessados no tratamento, em razão do know-how e dos resultados animadores obtidos”, conclui Ana Paula.

Em sua forma convencional, há algumas décadas vêm sendo realizadas pesquisas e tratamentos com sucesso na equoterapia para pessoas com síndrome de down, paralisia cerebral, autismo e acidente vascular encefálico em todas as faixas de idade.

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