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Conheça Acauã, a múmia unaiense de 3.500 anos

Acauã – Uma Múmia Brasileira

Acauã – Uma Múmia Brasileira


Jandira Neto

Professora /Arqueóloga especialista
Instituto de Arqueologia Brasileira – IAB

Ondemar Dias
Professor / Arqueólogo Sênior
Instituto de Arqueologia Brasileira – IAB

Trata-se de um corpo mumificado naturalmente, graças às condições ambientais da caverna em que foi enterrado, aproximadamente em 3.500 a.C. Foi descoberto na Caverna do Gentio, no município de Unaí, Estado de Minas Gerais, Brasil, durante escavações realizadas pelo Instituto de Arqueologia Brasileira – IAB no âmbito do Programa de pesquisas acadêmicas denominado “Grutas Mineiras” em 1973. Este deu prosseguimento às prospecções do Programa de Pesquisas Arqueológicas no Vale do São Francisco em Minas Gerais, (PROPEVALE), por sua vez concebido como prolongamento do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas – PRONAPA.

Os exames de tomografia computadorizada de 2009 confirmaram que esta múmia pertence a uma jovem menina de cerca de doze anos, cujo exame de DNA feito em 2011 revelou pertencer ao haplótipo A2 dos povos americanos. Ao morrer foi sepultada em uma rede de algodão, com braços e pernas envoltos em colares feitos com sementes de capim, o peito enfeitado com um pequeno arco de fogo e a raiz tuberosa típica dos acompanhamentos funerários femininos. Aos pés, se preserva um fragmento da platibanda da rocha calcária onde foi colocado e que parece ter se agregado posteriormente ao fardo mortuário.

O corpo assim preparado foi envolvido em um fardo funerário protegido por couro de veado e depositado no fundo da caverna. O material do entorno se vincula à Tradição ceramista Una, uma das mais antigas do interior brasileiro, produzida por um povo cujos estudos indicam que, muito possivelmente, ajudou no processo de domesticação do milho. Na caverna, além do milho foram coletados exemplares vegetais de algodão, amendoim e outras sementes. Muito bem preservados se encontram os artefatos de madeira, a farta cestaria e peças tecidas em algodão. Entre o material raro se destacam as peças elaboradas em cabaça, uma das quais ainda preserva resquícios de arte plumária e um fragmento de lucerna (lamparina) em cerâmica coletado no mesmo horizonte temporal.

O povo a que pertencia a jovem Acauã (nome dado em tributo a um pássaro constante da região), reocupou uma caverna que jazia desabitada há cerca de 2.000 anos, mas cujos vestígios indicam que no passado abrigou outra comunidade, mais antiga, produtora de artefatos líticos e que também praticava a arte parietal (arte rupestre). Estes sim, caçadores coletores, a ocupou desde o início do holoceno, ali enterrando seus mortos e executando seus grafismos.

A pequena múmia e seus acompanhamentos funerários encontram-se em exposição na Área Museu da sede do IAB em Belford Roxo, aberto a visitação.


Foto da escavação na Gruta do Gentio – Unaí-MG

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