O buriti – 30 anos de observação

Dentre as espécies vegetais encontradas nas veredas, o buriti (Mauritia flexuosa) se destaca. Palmácea ainda pouco estudada, foi sinal da presença de água e fauna exuberante desde a chegada dos europeus no Brasil.

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O buriti - 30 anos de observação

O buriti – 30 anos de observação

Contribuição do Viveiro e Flora Buriti ao 8º Fórum Mundial da Água
8th World Water Forum 2018
por José Augusto Campetti Nieto

As veredas do Brasil central são ecossistemas frágeis, cuja conservação é vital para o equilíbrio da vida na região. São áreas de nascentes cristalinas, que abastecem os rios das principais bacias regionais. Estão ameaçadas pelo uso irracional dos recursos hídricos em grandes projetos de irrigação, mineração e imobiliários. Dentre as espécies vegetais encontradas nas veredas, o buriti (Mauritia flexuosa) se destaca. Palmácea ainda pouco estudada, foi sinal da presença de água e fauna exuberante desde a chegada dos europeus no Brasil. Nestes séculos de ocupação, o buriti foi extinto em milhares de nascentes e veredas no cerrado brasileiro, pois após sua remoção, seu repovoamento depende do transporte da semente pela fauna. Por ser semente pesada, não se dispersa pelo vento.

Nosso trabalho de 30 anos tem sido estudar a coleta, conservação, tratamento, armazenagem e germinação das sementes do buriti (Maurítia flexuosa). Além da observação do tratamento das sementes, estudamos a germinação, formação da muda e controle com métodos sustentáveis de controle das doenças fúngicas que ocorrem na fase inicial da formação da muda, que muitas vezes levam à perda da planta. Também observamos o desenvolvimento da muda em campo, em diversos tipos de solos. Também estamos pesquisando a fauna que transporta as sementes, e sua importância na dispersão da espécie.

Nossa observação aponta que a extinção do buriti em nascentes acorreu inicialmente pelo uso da planta pelas comunidades pioneiras, que utilizavam seu tronco em diversas aplicações, tais como a confecção de ripas para telhados, devido a sua capacidade de resistência e leveza. Os troncos de buritis também eram utilizados como pinguelas em riachos, além de outras aplicações. Assim, pequenas populações de buritis foram extintas aos milhares desde séculos atrás. Outro fator de supressão da palmeira foi o uso de áreas para a agricultura, onde as plantas sofriam com as queimadas ou eram derrubadas na antiga agricultura de subsistência. Mais recentemente as veredas e buritis passaram a ser extintos de forma mais acelerada com a expansão da agricultura comercial, através do uso de tecnologia e capital voltado para a produção de grandes quantidades de grãos. Hoje a pressão econômica sobre as veredas é infinitamente maior, pois o capital e tecnologia disponíveis para a agricultura comercial, mineração e especulação imobiliária são de esferas astronômicas, tornando o processo de extinção exponencialmente mais rápido.

Observamos a necessidade da inclusão do uso de mudas de buritis na manutenção e recuperação de veredas degradadas, juntamente com o plantio de outras mudas características dos ecossistemas específicos. Apenas o cercamento das áreas de nascentes não garante que o buriti volte a colonizar o ecossistema, já que sua dispersão pode ter sido afetada pela supressão da fauna dispersora, ou pela ausência de plantas que produzam sementes viáveis.

Acreditamos na necessidade de legislação que impeça o avanço sobre as veredas. Acreditamos na necessidade da proibição do corte do buriti. Acreditamos na necessidade da inviolabilidade dos ecossistemas de veredas, pois somente assim conseguiremos preservar as nascentes de águas cristalinas do Brasil Central para as futuras gerações.

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